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Músicos cariocas criam roda de samba de majoritariamente preta

Créditos da Foto: Divulgação

Com público estimado em 3 mil pessoas entre o eixo RJ x SP x MG, Poeira Pura dita um novo rumo do samba contemporâneo com o resgate da ancestralidade e inclusão

Uma roda de samba noturna e que não é microfonada, onde apenas o som da percussão embala o público junto com o eco de centenas de pessoas que cantam em uma só voz letras autorais e clássicos repaginados. Um evento feito por majoritariamente por pessoas pretas, que aposta na mistura entre ancestralidade e inclusão, aproveitando o cenário social atual para repaginar a identidade do samba e fazê-lo chegar para diversos grupos sociais. Essa é a atmosfera criada pelo Poeira Pura, roda de samba fundada pelos músicos cariocas Rogério Família e Mateus Professor.

Com mais de 3 mil fãs espalhados pelo eixo RJ x SP X MG, o evento nasceu em Madureira, subúrbio carioca e recriado no centro da cidade maravilhosa a partir do sonho de oferecer um espaço onde a saúde mental, espiritual e física fossem as prioridades e que a musicalidade transcendesse esteriótipos e identidades excludentes, como a heteronormatividade, por exemplo. O conceito da dupla era criar uma roda de samba que oferece uma experiência cultural que iria além de uma simples trilha sonora comercial, ganhando status de uma manifestação da cultural preta, rica em emoções e capaz de impulsionar mudanças sociais através das reinterpretações das letras e do acolhimento.

Uma roda de samba é um ambiente sagrado, então o nosso objetivo com o conceito inédito apresentado pelo Poeira Pura é reforçar a nossa ancestralidade através do som, do ambiente, das luzes, do público etc. Por isso nos apresentamos sem microfones, para manter a autenticidade e a essência do samba. Já o nosso espaço é feito com luz baixa e nuances de vermelho, para trazer um clima de mistério e de magia. Outro ponto interessante é a posição de todos durante a noite. Nas nossas apresentações, todos ficam no mesmo nível: sambistas, músicos e público. Diferente da proposta dos shows de palco, onde o público contempla, com certa distância, a demonstração artística a roda de samba, assim como os Candomblés, é o lugar onde Deusas e Deuses vêm cantar, beber dançar e celebrar juntinhos da gente. Aqui, queremos a proximidade, o acolhimento e o pertencimento a esse movimento”, explica Rogério Família.

O Poeira Pura faz questão de se posicionar como um espaço inclusivo e de diversidade. Uma das prioridades para os fundadores do grupo é o acolhimento. “Uma roda de samba ainda é vista como um ambiente heteronormativo, por isso criamos uma comunicação que pode ser chocante e disruptiva para quem entende o samba como um lugar exclusivo para um certo tipo de seguimento social, para homens e mulheres cis hétero, por exemplo. Queremos celebrar e não afastar quando devemos juntar forças para enaltecer nossas raízes”, Rogério afirma.

A essência do samba com um toque de inovação:
Para Mateus Professor, construir uma imagem poderosa e agressiva do que é o samba, é o maior combustível do Poeira Pura. “O mercado criou uma imagem do samba como um movimento cordial, sempre alegre e dócil, e a gente vem para romper com isso. Não existimos para fazer a alegria de playboy em barzinhos, mas sim para botar o dedo em feridas, propor debates e construir uma nova estética do samba, em som e visualmente também. Outra coisa é que é muito comum, nos grandes palcos e festivais, vermos projetos de artistas que não são sambistas representarem o samba e a gente quer mudar isso, estamos trabalhando para ocupar os grandes palcos e contar a nossa história do nosso jeito, e propor nosso futuro, para grandes multidões.

A gente percebe a banalização da cultura preta e o embranquecimento da nossa música. Houve um tempo que você ligava a televisão e não era difícil assistir comerciais que usavam rodas de sambas como elemento figurativo e banal, não racializado. A sociedade brasileira ainda é muito racista, machista, elitista, pois reflete a ideologia dominante. Queremos ser protagonistas, queremos mostrar que a música pode e merece mais, queremos conquistar mais espaços, queremos dizer como foi, como é e como vai ser o nosso samba”, explica Rogério Família.

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Tradição, renovação e atualização. Com o objetivo de ser uma roda de samba firme e forte, Rogério explica que todos os eventos do Poeira Pura não são microfonados, para manter a proximidade com o público. “Estamos formando uma comunidade forte através das nossas rodas, então queremos que cantem com a gente. Todas as pessoas presentes devem se sentir incluídas na nossa música, principalmente, porque estão realmente contribuindo diretamente para uma das manifestações culturais mais importantes da história do Brasil, a roda de samba”, afirma o sambista.

A marginalização da cultura preta:
O Poeira Pura é uma roda de samba e é, também, uma expressão de identidade. Com isso, o desafio de reformular o ambiente cultural do samba para deixar de refletir as visões preconceituosas é constante. “A cultura preta é estruturalmente marginalizada e o samba, dependendo dos artistas que estão representando naquele momento, pode ser visto como uma bagunça. Algumas pessoas podem nos ver como algo simples, um sambinha, um pagodinho, um batuque qualquer, mas, certamente, somos mais que essas pessoas imaginam. Somos um movimento de transformação e afirmação, somos disputa e somos música de excelência.

Nossos eventos já contaram com a presença de grandes nomes da música brasileira, como a Liniker, Luedji Luna, Tássia Reis e Cleber Augusto. Já passou da hora dessas visões racistas, estereotipadas, excludentes de monótonas serem extintas. A comunidade preta samba mas também estuda, compra carro. Somos celebrantes e celebrados, nossas raízes são mais antigas que o tempo e sempre está a frente do tempo.

O sucesso do Poeira Pura:
O resultado da manifestação cultural futurista de Mateus e Rogério não poderia ser melhor. Suas conquistas incluem a lotação de ingressos nos três principais estados do Sudeste, RJ X SP X MG, movimentando a economia local e trazendo diversidade de gênero, território e raça em sua equipe. “Nossos ingressos esgotam no mesmo dia que abrimos as vendas. É comum recebermos mensagem do público falando que não conseguiram comprar por alcançarmos a capacidade máxima do espaço de uma forma muito rápida”, explica Mateus Professor.

Para os fundadores do grupo, o próximo passo é expandir sua agenda de eventos, não só aumentando suas datas como também conquistando novos territórios. “Queremos adicionar mais datas em Belo Horizonte, porque lá só temos uma edição ao mês. Além disso, em 2024, estamos planejando expandir para outras cidades, como Salvador, que acaba sendo uma prioridade nossa já que lá é um território majoritariamente preto”, finaliza Mateus.

Informações para Imprensa:
Consuelo de Magalhães – Broto Comunicação

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