“Pintura Pensamento”, exposição que comemora o primeiro ano da Ocre Galeria, reúne obras de Frantz e Manoel Veiga

Mostra que abre no dia 06 de maio, em Porto Alegre, reunindo duas grandes expressões da arte contemporânea brasileira, tenciona o conceito de pintura

No mês em que comemora um ano de atividades ininterruptas, a Ocre Galeria, localizada no Centro Histórico de Porto Alegre, inaugura a exposição intitulada “Pintura Pensamento”, reunindo dois destacados nomes da arte contemporânea brasileira, o gaúcho Frantz e o pernambucano (radicado em São Paulo) Manoel Veiga.

A mostra será aberta ao público no próximo dia 06 de maio, sábado, das 11h às 14h, consolidando um empreendimento cultural que tem foco na produção contemporânea e na comercialização e divulgação da arte brasileira, com especial destaque para os artistas de trajetória longeva e emergentes. A entrada é franca.

O que aproxima estes dois artistas de trajetórias e regiões geográficas distintas, além do fato de serem contemporâneos, de cultivarem uma amizade de longa data e do interesse em comum pelo processo artístico, mais que, efetivamente, a execução? Para Manoel Veiga, independente do resultado formal, existe uma aproximação com a pintura que é muito mais conceitual. Ao se considerar a proposta estética de Frantz e de Veiga, é possível estabelecer um ponto de convergência entre a produção artística destes artistas: ambos tencionam os limites entre “o que é” e “o que não é pintura”, abrindo espaço para uma arte feita de probabilidades.

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Somos artistas que trabalham com a cultura da não ação. Os fenômenos agem e a gente os seleciona” arrisca Frantz. “O que me interessa são os limites que esta proposta tenciona de ser ou não ser pintura” provoca.

Por mais paradoxal que pareça, tanto Frantz como Manoel Veiga são pintores que não pintam, pelo menos não da maneira como se entende a pintura – o contato do pincel ou da espátula sobre uma superfície de lona, papel, tela ou uma parede. Todavia, Frantz já pintou. Isso foi no começo dos anos 1980, quando, ainda jovem, despontou no circuito artístico local, logo se projetando também para fora do RS, em um momento histórico em que a pintura, frente à sua longa tradição e suas mortes continuamente anunciadas, era reabilitada por um renovado interesse pela pesquisa de seus meios e linguagem. Frantz foi um dos protagonistas deste momento, assim como Manoel Veiga, cada um em seu tempo distinto.

As obras de Frantz resultam dos procedimentos de apropriação dos pisos de ateliês de artistas que ele forra com grandes extensões de lona. Essas coberturas permanecem nestes espaços de trabalho durante anos, por vezes décadas, recebendo resíduos de todo tipo que nelas se depositam. Quando Frantz decide retirar os forros, os acúmulos de tinta e sujeira lhe surgem como possibilidades, que a partir do seu processo de apropriação, enquadramento e montagem, permitem-lhe identificar e nomear as superfícies como pintura. “Meu trabalho de criação começa quando eu escolho o lugar em que vou trabalhar”, explica Frantz. “Trata-se de definir que espaço me interessa. Eu não mexo na cena, mas atuo como um editor das imagens. É pintura, porque é tela, tem intenção de meio e fim” afirma. Segundo o artista, interessa-lhe os limites que este processo tenciona de ser ou não ser pintura.

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Também questionando os limites da pintura, temos a potente produção de Manoel Veiga, em exibição, pela primeira vez, na Ocre Galeria. Em suas obras, o artista, que é engenheiro eletrônico de formação, trabalha com probabilidades estéticas a partir de conceitos da física e da química. Nas pinturas sobre tela ou papel, fenômenos da natureza, como difusão, gravidade, capilaridade, entre outros, são utilizados como ferramentas de construção, num procedimento técnico bem estruturado, mas que contém certa medida de acaso. Há pouco uso do pincel e o direcionamento do fluxo de tinta é feito de forma indireta. A fixação desses pigmentos sobre a tela gera a imagem de um novo espaço, facilmente associado ao natural, uma vez que a técnica desenvolvida inclui os mesmos fenômenos usados pela natureza. “Não há aqui a tradicional metáfora para o mundo natural, mas um curto-circuito de significados. Através desses fluxos reais de cor temos uma experiência indissociável de espaço e tempo” ressalta Veiga.

Eu conduzo a pintura de uma maneira mental; não tem ação física. Eu não uso o pincel, a não ser para depositar a tinta na tela; na sequência, uso um pulverizador de água, que direciona a tinta de forma indireta. O trabalho começa com a seleção de pigmentos; cada cor é formada por um pigmento diferente; dependendo das propriedades deste pigmento, tamanho, densidade, formato, este pigmento vai se deslocar de uma maneira específica na tela, são questões de dinâmica dos fluídos” detalha Manoel Veiga. “É uma apropriação destes fenômenos, transformados em ferramenta de pintura“, sintetiza. Em lugar de representar natureza, Veiga trabalha com ela para imaginar novas configurações de espaço e tempo.

Ao longo de seu trabalho, como artista visual, as conexões entre arte e ciência estiveram sempre presentes, tanto em seu aspecto conceitual quanto prático/construtivo. Por meio da pintura e da fotografia, Veiga vem explorando as noções de espaço e tempo, gerando novas relações e cruzamentos entre suas formas de representação nos dois campos. Isso o levou a um contato constante com físicos e matemáticos de vários países, culminando recentemente na criação de uma plataforma internacional de colaboração, financiada pela National Science Foundation (EUA) e pelo Isaac Newton Institute (Cambridge, Inglaterra), sendo o artista membro do seu comitê gestor.

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Segundo a professora Heloísa Espada, que realizou a curadoria de uma grande exposição antológica de Manoel Veiga no MAC-USP, encerrada em janeiro deste ano, em São Paulo, “sua arte é uma espécie de laboratório, onde é possível manipular leis da natureza que regem o cotidiano e a relação das pessoas com o tempo, escolhas pessoais e aquilo que acontece à revelia dos desejos, como o envelhecimento dos corpos e a movimentação de matérias diversas no espaço”.

Nestas provocações de Frantz e de Manoel Veiga, que permitem uma reflexão sobre o campo expandido da pintura, o público terá a chance de renovar e ampliar seu entendimento e experiências sobre o fazer e o pensar em torno dos limites da pintura.

A EXPOSIÇÃO
Na exposição “Pintura Pensamento”, Frantz evidencia, pela primeira vez, o lugar de procedência das obras que estará exibindo na Ocre Galeria. A série foi produzida a partir das várias lonas que forraram o piso do atelier de Manoel Veiga, ao longo dos últimos 13 anos. Ele apresentará uma instalação e telas de diversos tamanhos. Manoel Veiga apresenta nove pinturas: seis trabalhos em acrílica sobre papel (70x50cm), dois trabalhos em acrílica sobre tela (150x80cm) e um trabalho em acrílica sobre tela (180×105), todas produzidas neste ano.

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A mostra fica em cartaz até 27 de maio. A visitação pode ser feita de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, e aos sábados, das 10h às 13h30min. A entrada é franca.

SOBRE FRANTZ
Frantz (1963, Rio Pardo-RS) é artista plástico, atuando como desenhista, pintor e gravador. Na década de 1980, muda-se para Porto Alegre. Estuda com diversos artistas , entre eles Paulo Porcella e Danúbio Gonçalves. Em 1982 participa do Salão do Jovem Artista, em Porto Alegre, e recebe Menção Honrosa; no mesmo ano realiza uma exposição individual , Pichações no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). Nos anos seguintes, é premiado em diversos salões, destaque para o Salão Paranaense e o Salão Nacional Funarte, projetando-se no circuito artístico local e também nacional.

Em 1989 começa a forrar o ateliê com lona de tela de modo que a tinta e todos os resíduos ali se depositassem. Estas lonas são aproveitadas pelo artista para a exposição individual Pinturas Não Realizadas, na Galeria Bolsa de Arte, em Porto Alegre, e na Fundação Vera Chaves Barcellos, em Viamão-RS. Iniciava, então, um novo momento na carreira do artista, que passa a intensificar sua prática e sua pesquisa neste processo, criando obras que resultam dos pisos de ateliês de artistas forrados com lona. Suas mais recentes exposições foram “Também e ainda Pintura”, com curadoria de Fernando Dalcol, no Margs (2019), e “Transversalidade”, no Farol Santander, com curadoria de André Severo (2021).

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SOBRE MANOEL VEIGA
Manoel Veiga (1966, Recife-PE) vive e trabalha em São Paulo. Graduado em Engenharia Eletrônica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e após quatro anos trabalhando em fábrica com automação industrial passa a dedicar-se às Artes Plásticas. Estudou na Escola Nacional Superior de Belas-Artes e na Escola do Louvre em Paris, França. Em São Paulo, estudou com Rodrigo Naves, Leon Kossovitch, Carlos Fajardo e com Nuno Ramos. Realizou mostras em instituições e galerias pelo Brasil e Exterior. Destaque para a Dan Galeria, Instituto Tomie Ohtake, Paço das Artes, Memorial da América Latina e Galeria Nara Roesler em São Paulo; Galeria D’Est et D’Ouest, em Paris (França); Museu Oscar Niemeyer e MAC Paraná, em Curitiba; MAMAM e Fundação Joaquim Nabuco, em Recife; Familie Montez Kunstverein em Frankfurt (Alemanha), Centro Cultural Parque de Espanha em Rosario (Argentina). Recentemente, realizou grande exposição antológica no MAC USP, em São Paulo, um recorte de 15 anos de trabalho, com curadoria de Heloisa Espada, entre 22/10/2022 e 26/03/2023. O trabalho e carreira do artista também podem ser apreciados em documentários realizados pelo Sesc TV, pela Revista Bravo e pelo canal Arte1, todos acessíveis pelo seu site.

Manoel Veiga recebeu os seguintes prêmios: “Mostras de Artistas no Exterior” (Fundação Bienal de São Paulo / Ministério da Cultura do Brasil), em 2010; Jabuti (Ilustração para Livro Infantil), em 2010; Flamboyant (Salão Nacional de Arte de Goiás) e Menção Especial (Bienal do Recôncavo), ambos em 2006. Tem obras em coleções públicas como MAC USP São Paulo (SP), Museu Oscar Niemeyer e MAC Paraná, em Curitiba (PR), Fundação Joaquim Nabuco e MAMAM, em Recife (PE); MAC Goiânia (GO); MAC Sorocaba (SP). Três livros foram publicados sobre seu trabalho, um pela espanhola Dardo Editora em 2017, outro pela Editora Barléu do Rio de Janeiro em 2019 e o terceiro pela editora Ipsis Pub de São Paulo em 2023.

SOBRE A OCRE GALERIA
A Ocre é uma galeria de arte localizada no Centro Histórico de Porto Alegre, próxima à Casa de Cultura Mario Quintana, ao Margs e à Usina do Gasômetro. É administrada pelos artistas Felix Bressan e Nelson Wilbert e pela administradora Mara Prates. A Ocre Galeria foi inaugurada em maio de 2022 com as exposições dos artistas Mariana Rotter e Rommulo Vieira Conceição. Na sequência, realizaram exposições na galeria os artistas Patricio Farías, Thais Ueda, Luiz Felkl, Bea Balen Susin, Lenir de Miranda, Alfredo Nicolaiewsky, Nara Amelia, além de três coletivas, dois módulos apresentando os artistas da galeria e outra de desenhos das artistas Amelia Brandelli, Olívia Girardello, Mariana Riera, Claudia Hamerski e Marta Penter com a curadoria de André Severo. A Ocre Galeria tem buscado preservar a história, difundir a cultura e apoiar a produção de novos artistas, disponibilizando um amplo acervo de artistas representados e um acervo online com obras selecionadas.

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CANAIS DE COMUNICAÇÃO:

Manoel Veiga
https://www.instagram.com/manoel_veiga
http://www.manoelveiga.com.br

Frantz
https://www.instagram.com/frantzsoares

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Ocre Galeria
https://www.instagram.com/ocregaleria


SERVIÇO: 
O Que. ‘Pintura Pensamento’, exposição de Frantz (RS) e Manoel Veiga (SP)
Onde: Ocre Galeria | Rua Demétrio Ribeiro, 535, Centro Histórico de Porto Alegre-RS
Período: Abertura dia 06 de maio de 2023, sábado, das 11h às 14h. Visitação de 08 a 27 de maio, de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h. Sábados, das 10h às 13h30min.
Quanto: Entrada franca
Obs: O local é arquitetonicamente acessível para cadeirantes
Recomendação etária: Livre 

Assessoria de Imprensa:
Silvia Abreu

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