
O espetáculo com temática trans integra a programação da 26a edição do Porto Alegre em um momento histórico onde a presença do espetáculo, durante o Mês de Visibilidade Trans, supera o transfake realizado em edições anteriores
Trasfake é quando um ator ou uma atriz cisgênero interpreta um personagem trans em qualquer espaço de arte. A prática rouba oportunidades, afirma estereótipos de uma forma transfóbica e reforça os dados em relação à violência contra os corpos de pessoas trans, sendo o ideal que pessoas trans ocupem as oportunidades de trabalho com essas narrativas.
O Brasil é o país que mais mata pessoas trans há 16 anos consecutivos e toda a violência estrutural, sistêmica e institucional faz com que o mercado de trabalho para essas pessoas seja extremamente escasso, para além das outras áreas da vida que são marginalizadas a partir dos dados, como família, educação, lazer e saúde.
SINOPSE: Um corpo inicia um processo de metamorfose – tece seu próprio casulo e se desprende do que não lhe cabe mais. Refaz-se e redescobre-se. Um corpo contador de histórias; histórias de quem veio antes, de si e de muitos outros, entrelaçadas pela vivência da transgeneridade.
SERVIÇO:
O que: CORPO CASULO
Quando: Dias 28, 29 e 30 de janeiro, às 20h.
Onde: Sala Álvaro Moreyra, no Centro Municipal de Cultura, Arte e Lazer
Lupicínio Rodrigues – Av. Érico Veríssimo, 307 – Azenha, Porto Alegre – RS,
90160-181
Quanto:
Inteira- R$ 60,00
1⁄2 Entrada- R$ 30,00 (idosos, estudantes e doadores de sangue)
Banri – 20% desconto
Unimed – 50% desconto
Ingressos antecipados: https://ingressos.portoveraoalegre.com.br
Classificação Etária: 12 anos
Duração do Espetáculo: 50 min
Acessibilidade: Intérprete de Libras (no dia 29); acesso para pessoas com baixa
mobilidade ou que utilizam cadeiras de rodas.
CORPO CASULO tem como tema central a transgeneridade e é encenado por Gustavo Deon, uma pessoa transmasculina. Gustavo é artista, formado em Teatro pela UERGS – Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, e produtor cultural, com foco no desenvolvimento de projetos de impacto social que acessibilizam arte, cultura, educação e acolhimento.
A narrativa do espetáculo apresenta as vivências de um corpo transsmasculino, costuradas a histórias de outras pessoas trans e a Memória Social na qual vivemos culturalmente. O trabalho é um monólogo, construído a partir do conceito de Biodrama, de Viviana Tellas, e de experimentações corporais fundamentadas na performance e inspiradas na dança contemporânea.
A linha dramatúrgica é construída a partir das fases da vida, iniciando na infância, passando pela adolescência e fase adulta – em diálogo aos estágios da metamorfose. Para a infância, onde os questionamentos de gênero já estão presentes, a cena é trabalhada em cima de textos do escritor e filósofo trans Paul Preciado, que elabora sua pesquisa tensionando as imposições de gênero, antes mesmo do nascimento de uma criança.
Na dramaturgia, a adolescência carrega o peso de uma ferida aberta, onde são expostas as vulnerabilidades, medos e perdas causadas por uma violência social “invisível”. A partir do cansaço da tentativa de moldar-se, o corpo agora encontra a infinidade de ser para além da “norma” e identifica-se com a transgeneridade e com tudo que pode e quer ser. A partir desse momento a dramaturgia mostra os processos, não como uma regra, de um corpo em transição. Para além do clichê da exposição das violências e sofrimentos vividos por uma pessoa trans, o texto exibe as sutilezas cotidianas, celebra sonhos e desejos, vibra o orgulho e o amor, possibilitando a criação de novas imagens de futuros e de representatividade para esses corpos.
A partir do que sugere a linha dramatúrgica, as cenas realçam as nuances da trajetória do ator em seus diferentes “estágios” de transição, propondo ambientações que transitam entre o cômico, a franqueza acerca de sua identidade e a visão sobre ela, costuradas com a poesia, que abre espaço para linguagens mais abstratas e metafóricas. A pesquisa para essa construção se dá em conjunto a produção de pessoas trans que pensam sobre gênero dentro da literatura, filosofia, psicologia e teatro; referências como Paul Preciado, Jota Mombaça, Letícia Nascimento e Dodi Leal.
No Brasil, a expectativa de vida de uma pessoa trans brancas é de 35 anos e 28 anos para pessoas trans negras. Segundo pesquisas, entre os anos de 2017 e 2022, período em que a ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais passa a fazer o Dossiê de Assassinatos contra Travestis e Transexuais Brasileiras, foi levantado um total de 912 (novecentos e doze) assassinatos de pessoas trans e não binárias brasileiras. Sendo 131 casos em 2022; 140 casos em 2021; 175 casos em 2020; 124 casos em 2019; 163 casos em 2018 e; 179 casos em 2017 (o ano com o maior número de assassinatos de pessoas trans na série histórica). O Brasil é líder no ranking de assassinatos de pessoas trans pelo 16o consecutivo. Em 2023 foram 145 pessoas trans assassinadas, 136 eram travestis e mulheres trans. As outras 9 pessoas eram transmasculinas. Entre elas, pelo menos 72% eram pessoas pretas. O Brasil tem uma média de 12 pessoas trans assassinadas por mês. Isso fora os casos não registrados.
Segundo o ator, após analisar todos esses dados que afetam diretamente a população trans, o espetáculo busca alternativas para diminuir esses impactos e de alguma forma, contribuir para a visibilidade da pauta. “Visibilidade para nossa existência, visibilidade para nossos talentos em diferentes âmbitos sociais, visibilidade para toda a potência que podemos ser. Queremos alcançar tudo que podemos e que temos direito, através da circulação de criações provocativas com senso de responsabilidade, compromisso social, identificação e denúncia.”
O espetáculo conta ainda com a co-direção de Luka Machado, atriz, produtora cultural, gestora de projetos e comunicadora, trabalha no desenvolvimento de projetos artísticos e culturais com foco no acolhimento, visibilidade e ativismo LGBTQIAPN+, com foco na comunidade trans e travesti. A artista acrescenta: “acreditamos que a identificação gera o coletivo e o coletivo fortalece o individual. A representatividade se torna essencial e necessária para a construção de si e para uma possível rede de apoio e partilha do que nem sempre é acessível. Somos somas de vivências, somos a estatística que permanece viva e buscamos formas de expressão para não mais sofrer de forma passiva os danos da desinformação e da ignorância.”
O espetáculo é uma realização do INTRANSITIVO, coletivo formado integralmente por artistas trans, com diferentes linhas de pesquisa e áreas de atuação. Em 2021, o coletivo produziu e dirigiu o filme documentário “INTRANSITIVO: Um documentário sobre narrativas trans”, que traz recortes de vida de oito pessoas trans, de diferentes pontos do Rio Grande do Sul. O documentário é pioneiro em ter 100% de protagonismo trans, em frente e por trás das câmeras, com objetivo de quebrar estigmas e combater o transfake (prática transfóbica que afasta pessoas trans do mercado de trabalho e contribui com a transfobia estrutural), com participação no Festival Internacional Queer Lisboa 2023 e 2024, Fabulous Independent Film Festival FIFF 2023 – Flórida e Merced Queer Film Festival 2023 – Las Vegas, onde recebeu uma menção honrosa.
Através das ferramentas de diálogo que o coletivo encontra na arte, o espetáculo busca proporcionar momentos para sentir; na tentativa de contribuir na construção de uma sociedade onde os direitos das pessoas trans sejam respeitados, os corpos naturalizados e a história lembrada.
FICHA TÉCNICA:
Direção: Gustavo Deon e Luka Machado;
Dramaturgia: Gustavo Deon, com contribuições de Luka Machado;
Elenco: Gustavo Deon;
Participação: Luka Machado
Iluminação e operação de luz: Titi Bayarri;
Trilha sonora: Ayô Tupinambá;
Operação de som e projeções: Vigo Cigolini;
Produção: Gustavo Deon e Luka Machado;
Produção de Palco: Kairo Ferreira;
Equipe de apoio: Aldrin Xavier e Helena Soares;
Gerenciamento de redes sociais e criação de conteúdo: Luka Machado;
Assessoria de imprensa: Gustavo Deon e Luka Machado;
Fotografia: Gabz 404;
Intérprete de Libras: PARA TODOS;
Apoio: INTRANSITIVO
Fonte: Redação