Obras de arte da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP) já estão disponíveis para acesso público e virtual

Financiada pelo FAC Patrimônio, iniciativa digitalizou obras produzidas por quatro frequentadores da oficina para que acesso público online e gratuito

Já está disponível para acesso público, online e gratuito parte do acervo das obras de arte produzidas por quatro artistas frequentadores da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro. A iniciativa, viabilizada graças a financiamento do FAC Patrimônio, digitalizou 200 trabalhos de quatro artistas (50 de cada um): Cenilda Ribeiro, Frontino Vieira, Luiz Guides e Natália Leite. Os materiais receberam tratamento de conservação preventiva (higienização, acondicionamentos e armazenamento adequados) e agora estão disponíveis pelo site https://artistasdofora.com.br.

O projeto “Salvaguarda e Memória – Artistas do Fora na Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP)” foi produzido pelo antropólogo Mário Eugênio Saretta Poglia, com a participação voluntária do Núcleo de Transdisciplinar Arte e Loucura Tania Mara Galli Fonseca (NuTal) e o curso de Museologia, ambos da UFRGS.

O objetivo é promover a preservação do acervo, enfatizando a relevância do material, e sua inserção no recém fundado Museu Estadual Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro (MEOC-HPSP). Além disso, a iniciativa visa democratizar o acesso e estimular pesquisas sobre sua trajetória. A curadoria das obras é assinada por Barbara Elisabeth Neubarth e Blanca Luz Brites

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O site onde as obras estão disponíveis para o público utiliza o Repositório Digital Tainacan, software livre desenvolvido pela Universidade Federal de Brasília (UNB) e utilizado pelos museus vinculados ao Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), e com mais de 800 instalação ativas. Considerado um dos sistemas mais adequados para a preservação, organização, documentação e comunicação de acervos museológicos na internet, permanecerá como base de dados para o MEOC no futuro.

Arte e a Saúde Mental

O projeto abre a possibilidade de novos olhares para pessoas atendidas em hospitais psiquiátricos. A preservação das obras permite a visibilidade dos ditos “artistas do fora”. Estes tiveram na Oficina um espaço de acolhida, respeito e produção de significado. 

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Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP)

Fundada em 1990, reúne nesses mais de trinta anos de atividades um conjunto de obras de pessoas marcadas pelo estigma da loucura. A Oficina e seu acervo foram tema de uma numerosa produção acadêmica, resultante de estágios, programas de extensão e pesquisas de graduação e pós-graduação das mais distintas áreas do conhecimento. Ao longo de sua trajetória, firmou parcerias com várias universidades e recebeu estudantes, professores e demais pesquisadores, emergindo, assim, como relevante equipamento voltado à saúde e à cultura, fomentando o conhecimento e contribuindo com a formação de distintos profissionais. A partir da singularidade de seu acervo, a Oficina surge como um dos significativos conjuntos do país, no que se refere à temática Arte e Loucura, ao lado do Museu de Imagens do Inconsciente (RJ), do Museu de Arte Contemporânea Bispo do Rosário (RJ) e do Museu de Arte Osório César (SP). Em 2017, a Oficina de Criatividade do HPSP recebeu o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). 

Atualmente, o seu acervo contém cerca de 200 mil documentos, bens que ainda não foram, em sua totalidade, inventariados e cuja patrimonialização se dará quando incorporados ao Museu Estadual Oficina de Criatividade (MEOC-HPSP).

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SOBRE O PRODUTOR

MÁRIO EUGÊNIO SARETTA POGLIA 

Cientista Social, mestre e doutor em Antropologia Social pelo PPGAS/UFRGS. Atualmente, é professor do curso de Museologia e Artes Visuais na Escola de Música e Belas Artes da Universidade Estadual do Paraná (EMBAP/UNESPAR). Integrante do Núcleo Transdisciplinar Arte e Loucura Tania Mara Galli Fonseca (NuTAL/UFRGS). Dirigiu e produziu Epidemia de Cores, documentário de 2016 que tematiza a Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro, que esteve em exibição em cinemas brasileiros, mostras, festivais e televisão. Codirigiu e coproduziu Berimbauzeiro, curta-metragem lançado em 2021. Realizou pesquisas etnográficas sobre a alteridade e o real nas temáticas da loucura, da dor e do efeito placebo. Sua tese recebeu o prêmio de Melhor Tese em Ciências Sociais da Região Sul/Centro-Oeste/Distrito Federal 2020 concedido pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) e, consequentemente, foi escolhida uma das três melhores do Brasil. 

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SOBRE AS CURADORAS

Barbara E. Neubarth – Dra. Educação (UFRGS), com a tese: NO FIM DA LINHA DO BONDE, UM TAPETE VOA-DOR: a Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro (1990-2008): inventário de uma práxis. Bacharel e Licenciada em Psicologia (PUCRS). Bacharela em Artes Visuais (UFRGS). Especialista em Psicoterapia de Orientação Analítica (Centro de Estudos Luis Guedes/CELG/Faculdade de Medicina/UFRGS) Psicóloga concursada da Secretaria de Estado da Saúde (SES/RS). Fundadora e coordenadora da Oficina de Criatividade e Acervo (1990-2019). Atual consultora na Oficina de Criatividade e Acervo (HPSP) e curadora do Museu Estadual Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro (MEOC-HPSP). Participa do Núcleo de Extensão Transdisciplinar Arte e Loucura Tania Mara Galli Fonseca NuTAL/UFRGS. (ID Lattes: 6945217647492488) [email protected]

Blanca Luz Brites – Dra. História da Arte (Universidade de Paris I – Panthéon Sorbonne).   Professora titular (aposentada) do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes (UFRGS), com pesquisas vinculadas as temáticas da museologia, curadoria, acervo e arte no RS. Coordenou o Acervo Artístico da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo IA/UFRGS de 2001 a 2011. Faz parte como voluntária da Coordenação do Acervo da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro, desde 2003, a partir da curadoria da exposição de Luiz Guides no MARGS; junto com a profª. Tania Mara Galli Fonseca fez a curadoria da exposição Eu sou Você no HPSP, em 2010, promoção do Museu da UFRGS. Curadora, com Leandro Selister e Paula Ramos da Microgaleria Arte Acessível do StudoClio Instituto de Arte & Humanismo, em Porto Alegre, de 2005 a 2017. Publicou: Cerâmica um caminho de vida: Marianita Linck. (org) Porto Alegre, Editora Imagens da Terra: 2017; A Pinacoteca Barão de Santo Ângelo. in: Pinacoteca Barão de Santo Ângelo: Catálogo Geral – 1910-2014. Porto Alegre, Editora da UFRGS: 2015, vol. I e II. Membro do Comitê Brasileiro de História da Arte, (CBHA) e da Associação Internacional de Críticos de Arte AICA. Curadora adjunta do Museu Estadual Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro (MEOC-HPSP). Participa do Núcleo de Extensão Transdisciplinar Arte e Loucura Tania Mara Galli Fonseca NuTAL/UFRGS. (ID Lattes 6757996415119570) [email protected]

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SOBRE OS ARTISTAS QUE TIVERAM AS OBRAS DIGITALIZADAS:

Luiz Guides (1922-2010), nascido em Rio Grande/ RS passou mais de 50 anos internado no HPSP, foi dos primeiros a frequentar a Oficina de Criatividade desde sua abertura. Aqueles que o acompanharam puderam registrar como ele foi se apropriando das cores e, aos poucos, construindo de forma espontânea uma identidade plástica marcada pela repetição formal. Iniciava seus trabalhos inserindo números na folha e depois a preenchia com quadrados e círculos que lembravam relógios, nos quais as cores são exploradas com arranjos que surpreendem pela força que instauram. Era uma pessoa de poucas palavras, olhar sereno e que, por vezes, parecia entender o que se passava quando suas obras eram expostas. Para Edson Sousa, “[…] as pinturas de Guides, em seu valor de obras de espírito, como propunha Paul Valéry, nos lançam uma série de enigmas. Coloca em cena uma reflexão sobre como situarmos no tempo da imagem, do inacabado e, sobretudo, testemunha com suas cores e traços metódicos, a função da arte como forma de introduzir vertigens e coordenação em nossas vidas” (SOUSA, 2012, p. 118).

Frontino Vieira (1914-1993) Nos trabalhos de Frontino há uma vibração de cores dominada por linhas que dançam soltas, formando uma espécie de texto criado somente para seu entendimento, que, como afirma Barbara Neubarth, lembravam ideogramas da escrita japonesa. Por vezes, pela quantidade de trabalhos num mesmo dia, podemos ver bem que ele ia aumentando a quantidade de formas em cada nova folha, como uma sequência, e agora podemos interpretar como uma série, ou como um grande conjunto. Pessoa afável, passou parte de sua vida dentro desse manicômio, onde tinha a tarefa de varrer o chão de sua unidade, o que fazia com muito zelo. Frequentou a Oficina de Criatividade desde o início, mas sua idade avançada permitiu que lá estivesse somente por três anos. 

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Cenilda Ribeiro (1952-1999) Retrata figuras com familiaridade, muitas das quais são identificadas pelos detalhes das vestimentas, através dos quais se reconhece o tradicional jaleco dos médicos ou enfermeiros. A figura masculina está muito presente em seus trabalhos e é sempre mostrada com o rosto de frente, como se olhasse deliberadamente o espectador, talvez como se o interrogasse. Para Cenilda, a escrita é uma constante. Há momentos em que esta acompanha seus desenhos; em outros, somente preenche suas folhas. Por vezes, ela constrói seu desenho a partir de letras, acompanhado de um texto que mostra a ideia de repetição. Processo que em muito se aproxima dos recursos da arte contemporânea, embora ela não tivesse nenhum conhecimento desta. Entre as várias internações de longos períodos, permaneceu no HPSP por mais de 30 anos.

Natália Leite (1943-2022) Traz para seus desenhos e bordados lembranças de um cotidiano de antes de sua internação, quando vivia em área rural, o que mostra a familiaridade com as formas de animais domésticos com os quais provavelmente convivia, como porcos, vacas, cachorros, galinhas. A ânsia de Natália em colocar todas essas memórias em um mesmo espaço faz com que use imagens sobrepostas, assim como se organizam em seus pensamentos ou simplesmente pelo aproveitamento de papel. Essa sobreposição fica muito clara nos bordados executados de forma linear. Uma cena particular e reveladora aconteceu quando Barbara Neubarth lhe mostrou um desenho da série Alienados feita por Edgar Koetz, em que ela aparece. Depois de 40 anos, ela se reconheceu dizendo: “Sou eu. Foi um retratista, lembrando do momento em que Koetz a desenhou.

FICHA TÉCNICA DO PROJETO
PRODUÇÃO: Mário Eugênio Saretta Poglia
CURADORIA: Barbara Elisabeth Neubarth, Blanca Luz Brites
PRODUÇÃO EXECUTIVA E COORDENAÇÃO TÉCNICA: Pantheon Patrimônio e Cultura
MUSEÓLOGA PESQUISADORA: Aline Vargas
AUXILIAR MUSEOLÓGICO: Julia Ferreira
ASSESSORIA MUSEOLÓGICA: Elias Machado e Vanessa Aquino

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Programa de Extensão “Museu Oficina de Criatividade (MEOC-HPSP): Diálogos Museológicos e Museográficos Sobre Arte e Saúde Mental” da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

BOLSISTAS DO PROGRAMA DE EXTENSÃO: Camila Casarotto Martins e Paula Reichelt
COORDENAÇÃO DA OFICINA DE CRIATIVIDADE: Tatiane Patrícia Souza da Silva
DIGITALIZAÇÃO: Sabiá Cultural
DESIGNER GRÁFICO: Juliana Costa
ASSESSORIA DE IMPRENSA: Dona Flor Comunicação – Raphaela Donaduce
ASSESSORIA CONTÁBIL: DS3 Assessoria Contábil
FOTÓGRAFA: Gabriela Mincarone
APOIO: Curso de Museologia da UFRGS e Núcleo de Transdisciplinar Arte e Loucura Tania Mara Galli Fonseca (NuTal)

FINANCIAMENTO: O Projeto Salvaguarda e Memória – Artistas do Fora na Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro está sendo realizado com recursos do PRÓ-CULTURA RS FAC – Fundo de Apoio à Cultura, do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

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Assessoria de Imprensa:
Raphaela Donaduce – Dona Flor Comunicação

Fotos:
Gabriela Mincarone

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