Nova montagem do texto Calígula estará no Teatro de Arena, dias 28 e 29 de outubro

Com texto de Maria Luíza Sá e Madureira e direção de Lisandro Belotto, a peça traz a Roma Antiga para os dias atuais no Brasil de 2022

Que espectros nos rondam há tempos, não há dúvidas. Neste espetáculo, Calígula (Marcos Contreras), um homônimo do imperador romano, mergulha na contradição entre civilização e barbárie que é a marca de uma humanidade em crise. Imperialismo, grandes navegações e seus achamentos, obscurantismos que retornam feito assombrações, globalização, violência e guerra são alguns dos grandes temas que atravessam esta nova montagem que junta dança, música, vídeo, luz e performance num verdadeiro ritual de resistência. Calígula teve pré-estreia no início do mês e estará nos dias 28 e 29 de outubro no palco do Teatro de Arena, um dos espaços de resistência das artes cênicas de Porto Alegre, por onde passaram importantes companhias e montagens.

Festa triste, celebração da palavra, a peça mobiliza uma teatralidade exuberante para extrair do texto uma vertigem visual. O dizer, em Calígula, é trincheira. Teatro-guerra, encontro de corpos, combate ao vivo, corpos presentes num tempo presente. Momento sombrio, é verdade, mas cheio de futuros a serem criados. O esforço de dar forma, neste trabalho, é a forma de resistir” afirma Maria Luíza Madureira, autora do texto. Em busca de uma maneira de narrar o que vive, Calígula, historicamente lembrado, sobretudo, como um facínora alucinado, se multiplica e se projeta no público: polifônica, a figura e as entidades que incorpora buscam modos de dar conta daquilo que a palavra não alcança. Como alcançar a palavra justa quando o injusto se impõe? Como nomear o horror?

Para montar a fantasia, projeções em vídeo de Maurício Casiraghi aparecem trazendo representações visíveis do indizível, além de criarem um cenário virtual que dialoga com a luz de Bathista Freire, que abusa da escuridão com explosões de cor pontuais. Estreando no teatro, Jackson Brum, grafiteiro e bailarino com origem no Hip Hop, traz a rua para dentro da cena, um duplo dançado da figura de Calígula, despejando lirismo em contraste com o deboche e a ironia de Contreras. Daniel Roitman faz desfilar paisagens sonoras, ruídos, guitarras distorcidas e verdadeiras songs brechtianas.

O texto desta montagem que apresentamos agora começou a ser gestado em 2017, quando fez parte de um projeto contemplado pelo edital Arena 50 Anos. Escrito especialmente para o Teatro de Arena, Calígula foi inicialmente concebido como uma metáfora abstrata sobre a brutalidade presente na vida civilizada. A figura do Imperador Romano servia, inicialmente, de mote para uma reflexão metafísica sobre a liberdade e os constrangimentos impostos a ela pela vida em sociedade. Quem eram os bárbaros, afinal?” reflete Maria Luíza. No entanto, em meio aos acontecimentos políticos que se seguiram ao injusto (porém legalmente perpetrado!) impeachment imposto à presidenta brasileira Dilma Rousseff, a escrita da peça, durante o ano de 2017, foi sofrendo uma guinada. À medida em que o ódio aos pobres se intensificava, assistíamos, ao vivo, na televisão, a sonoras e desavergonhadas defesas da tortura e da volta à ditadura militar de 1964. Vendo as liberdades civis passarem a ser ameaçadas na prática, enquanto o debate público movia-se para zonas de retrocesso jamais imaginadas, no embalo do crescente fanatismo das falas de quem desejava devolver o poder às elites, já não era mais possível escrever sobre o mal apenas em teoria.

Não era mais possível ficar em Roma. A antiguidade clássica deixava de ser o centro de interesse do projeto. A vida, no Brasil, era maior, ou infinitamente menor, ela nos atropelava a cada minuto. Eles usavam aqui e agora o direito, precisamente o direito, a grande amarração civilizatória que são as leis, para nos golpear. A democracia passava a ser um jogo de azar viciado. As instituições democráticas – a justiça, de pé, mas sem venda, um parlamento suspeito – tramavam por entre o emaranhado de leis. Contra a constituição. Contra o povo. Contra a democracia. “Em 2020, a pandemia abortou a estreia desta montagem, marcada para 20 de março de 2020. Foram mais de dois anos de incerteza até que consideramos possível retomar ensaios e estrear. Um novo fragmento foi incorporado ao texto já que, desde o início da escritura dramatúrgica de Calígula, aprofundou-se e ampliou-se o alcance da onda fascista e obscurantista no Brasil e no mundo. Assim chega-se ao presente trabalho: com a máxima urgência. Um trabalho, sobretudo, de simbolização: o esforço de dar forma é a forma de resistir”, conclui a autora.

FICHA TÉCNICA
Texto – Maria Luíza Sá e Madureira
Direção – Lisandro Bellotto
Elenco – Marcos Contreras e Jackson Brum
Trilha sonora – Daniel Roitman
Luz – Bathista Freire
Vídeos – Maurício Casiraghi
Cenotécnico – Rodrigo Shalako
Design gráfico – Paola Manica
Assessoria de imprensa – Bebê Baumgarten
Fotos – Alexandre C. Moreira e Javier Dornelles

SERVIÇO:
CALÍGULA
Dias 28 e 29 de outubro, às 20h
Teatro de Arena – Borges de Medeiros, 835

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Ingressos:  R$ 40,00 com meia entrada para classe artística, professores, idosos
Pela plataforma Sympla – https://www.sympla.com.br/produtor/espetaculocaligula
ou na bilheteria do teatro no dia da apresentação a partir de 19h (pagamento por pix)

Duração 70 minutos

Classificação etária 14 anos
Estacionamento conveniado Safe Park na Duque de Caxias 1357

Assessoria de Imprensa:
Bebê Baumgarten Comunicação

Fotos:
Alexandre Moreira

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