Nova temporada será de 15 a 17 de setembro, quinta, às 21h, e sexta e sábado, às 20h
As luzes oscilantes indicavam o início do espetáculo. À direita do público Arlete está sentada, enquanto à esquerda está Zé, ambos imóveis, apenas com uma luz sobre seus corpos. Os personagens são dois idosos residentes de um asilo decadente, na Corruptúnia – país nem tão imaginário assim. Entre falas, lembranças, literatura e clássicos, Oneirópolos e Disoíonos versam sobre seus tempos de glória nos palcos, textos imortais e bolam um plano para receber apoio financeiro à iniciativa artística.
“Eu quis fazer uma declaração de amor ao teatro. Ao mesmo tempo, falar sobre o preço da ignorância. Uma sociedade que não valoriza a cultura tem mais risco de ser manipulada por indivíduos sem virtudes”, assegura Gilberto Schwartsmann, que teve um texto seu adaptado ao teatro pela primeira vez e assina a dramaturgia da montagem.
Depois da estreia exitosa, com ingressos esgotados e público radiante, Gabinete de Curiosidades terá segunda temporada no palco do Theatro São Pedro, dias 15, 16 e 17 de setembro, quinta, às 21h, e sexta e sábado, às 20h. A direção é de Luciano Alabarse. No elenco Arlete Cunha e Zé Adão Barbosa; a dramaturgia é de Gilberto Schwartsmann; e a participação especial é de Fernando Zugno. No dia 15 de setembro haverá novo debate sobre a peça com Emílio Salle, médico, psiquiatra, psicanalista da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, além de Alabarse e Schwartsmann.
Quando Alabarse leu o texto de Gilberto Schwartsmann pela primeira vez, reconheceu eixos dramatúrgicos relevantes, pelos quais a direção do espetáculo poderia e deveria seguir: a solidão dos personagens – dura, cruel, lírica, turbulenta; dois velhos jogados, e esquecidos, num asilo público; as falhas e insuficientes políticas públicas relacionadas à velhice e à terceira idade; o entorno político desse descaso institucional, intenso e permanente, com a cultura e com a velhice. Nesse contexto realidade e ficção se misturam borrando fronteiras, uma homenagem à própria história da dramaturgia ocidental. Beckett, Ionesco, Brecht, além de muitos outros nomes da história teatral, montam uma aula primorosa sobre dramaturgia.
A história se passa no ano de 2040, em um velho asilo, na capital Corrúpnia, um país imaginário cheio de contradições e injustiças. Neste país tão injusto, o respeito ao indivíduo e às diferenças foi praticamente esquecido. As desigualdades são imensas. Na Corrúpnia, os abismos sociais são a regra. A cultura e a arte são tratadas com desdém pelas autoridades e pela maior parte da elite econômica. Para receber apoio financeiro a iniciativas artísticas, o setor da cultura deve literalmente implorar de joelhos por algum milagre que sobre do orçamento do governo.
“Para mim, homem de teatro prestes a completar 50 anos de carreira, dirigir um espetáculo que reverencia dramaturgos e atores, ter em mãos um texto debruçado sobre os sonhos e as dificuldades da profissão, os ossos do ofício, o inventário teatral que nos foi legado, e, – com tudo isso, por tudo isso -, sentir em mim, intacto, o amor pelo Teatro, foi revigorante, radiante e doloroso. A empatia com o texto foi fulminante. Revelar mais um dramaturgo gaúcho, foi a derradeira razão para aceitar essa empreitada. Gilberto Schwartsmann, amigo a quem tanto admiro, me surpreendeu mais uma vez. Encarei sua proposta dramatúrgica disposto a dar minha contribuição à beleza criativa de seu texto”, conta Luciano Alabarse.
Gilberto Schwartsmann celebra sua criação em uma peça teatral pela primeira vez. O texto original é da obra literária O Sol Brilhou na Corrúpnia. “Foi muito emocionante para mim observar as reações e os comentários da plateia, ao final das sessões de nosso ‘Gabinete de Curiosidades’. Há tanta gente que se sentiu tocada pelo conteúdo da peça! Eu suspeito que, entre risos, choros e reflexões, as portas de muitos “gabinetes” foram abertas”, sugere Schwartsmann.
Zé Adão Barbosa interpreta Oneirópolos, enquanto Arlete Cunha dá vida a Disoíonos, que em grego significam otimista e pessimista, respectivamente. Zé e Arlete em meio a suas genialidades e atenção aos detalhes vão do drama à comédia em fração de segundos e asseguram a seriedade e ao mesmo tempo conferem leveza ao texto juntos e cada um de seu modo também.
“Achava que talvez não sobrevivesse à esta pandemia e nunca mais voltasse ao palco. Quando estreamos com o teatro lotado e encerramos os espetáculos sob uma chuva de aplausos emocionados eu percebi que a vida tinha quase voltado ao normal e meu ofício estava preservado. Agora nos resta re-erguer a cultura semi-destruída por anos de descaso e negligência. A arte salva. Viva a arte!”, emociona-se Zé Adão.
“É incrível como que só na presença do público o teatro se consuma. E os dias de estreia são inesquecíveis para quem está na cena, eu lembro de cada dia das estreias que vivi em mim. Mas com o GABINETE DE CURIOSIDADES a sensação foi muito especial, única, foi como colocar a cabeça para fora de uma água densa e pegar o ar e deixá-lo fluir. E pulsar. Sobrevivi! E com o público ali, dando sentido a uma realidade inventada, respiro. Vivo”, reflete Arlete.
A participação de Fernando Zugno no espetáculo é especialíssima, pois quebra um jejum de dez anos longe dos palcos. “Voltar aos palcos com uma peça tão bem-feita, produzida, escrita, dirigida e contar com talentos como Zé e Arlete é maravilhoso. Unir técnica, profissionalismo e afeto me parece uma receita infalível. Estou louco para voltar para a segunda temporada, estar com toda a equipe novamente”, celebra Zugno. Ele interpreta um personagem entre atos, que não interfere nas cenas, mas propõe uma costura ao longo do espetáculo. Em suas intervenções, seu personagem evidencia o contraste entre o ambiente, as situações e os atores.
Na peça, que mistura comédia e momentos de solidão e tristeza, Zugno não imaginou o laço que se criaria instantaneamente com o público. “O processo foi muito gostoso, mas não imaginava a proporção da conexão e do engajamento imediatos que a peça cria com o público. Embora a obra trate de uma questão densa, foi uma grata surpresa vivenciar que sua forma gera uma reação imediata e linda da plateia”, conclui Zugno.
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: GILBERTO SCHWARTSMANN
Direção: LUCIANO ALABARSE
Elenco: ARLETE CUNHA e ZÉ ADÃO BARBOSA
Participação: FERNANDO ZUGNO
Iluminação: MAURÍCIO MOURA e JOÃO FRAGA
Técnico de luz: ANDRÉ HANAUER DE FREITAS
Trilha Sonora: LUCIANO ALABARSE
Operação de Som: LUIZ MANOEL e MANU GOULART
Figurinos: ANTONIO RABÀDAN
Cenário: LUCIANO ALABARSE
Cenotécnico: RODRIGO SHALAKO
Acessório Lustre: DANIEL JAINECHINE
Assessoria de Imprensa: CÁTIA TEDESCO e MAUREN FAVERO (Agência Cigana)
Projeto Gráfico: DIDI JUCÁ
Coordenação de Produção: LETÍCIA VIEIRA
Produção Executiva: JAQUES MACHADO
Produção Geral: PRIMEIRA FILA PRODUÇÕES
Com produção de Letícia Vieira e Jaques Machado, pela Primeira Fila Produções, Gabinete de Curiosidades conta com Maurício Moura e João Fraga à frente da criação de iluminação e o premiado figurinista Antonio Rabàdan, assinando a concepção dos figurinos. Rodrigo Shalako e Daniel Jainechine somam na concepção cenográfica de Luciano Alabarse, que também assina a trilha sonora do espetáculo. André Hanauer de Freitas é o técnico de luz, enquanto a dupla Luiz Manoel e Manu Goulart fazem a operação de som. Quem assina o projeto gráfico é Didi Jucá e a assessoria de imprensa fica a cargo de Cátia Tedesco e Mauren Favero, da Agência Cigana.
DEBATE SOBRE A OBRA
Após a sessão de quinta-feira, no dia 15 de setembro, haverá debate no Theatro São Pedro sobre o espetáculo em uma parceria com a Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre – SPPA. Na ocasião estarão presentes Emílio Salle*, Luciano Alabarse e Gilberto Schwartsmann.
*Emílio Salle – médico, psiquiatra, psicanalista da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre.
LUCIANO ALABARSE
Diretor teatral há mais de 40 anos, cursou o Departamento de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Além de encenar clássicos da tragédia grega e de William Shakespeare, levou aos palcos textos de autores gaúchos como Lya Luft, João Gilberto Noll e Caio Fernando Abreu. Sua última direção estreou em 2022, da cia Teatro ao Quadrado, O inverno do nosso descontentamento – Nosso Ricardo III. Na gestão pública, foi titular da Coordenação de Artes Cênicas da Secretaria Municipal de Cultura e diretor da Usina do Gasômetro. Nos últimos 20 anos, foi responsável por programas de intercâmbio cultural entre Porto Alegre e cidades como Buenos Aires e Montevidéu. Também foi diretor do festival Porto Alegre em Cena, referência no Brasil e no mundo como um dos principais eventos do setor. Em 2013, esteve à frente da então gestão, da Secretaria de Cultura de Canoas e em 2017 assumiu a Secretaria de Cultura de Porto Alegre, até final de 2020.
ARLETE CUNHA
É atriz de teatro e professora de crianças e adolescentes. Tem participado de importantes montagens teatrais do sul do país nestes últimos 40 anos. Nos últimos tempos: participa como atriz na peça Pequeno Trabalho Para Velhos Palhaços, direção de Adriane Motolla; atua e dirige a peça Mário Marinheiro onde investiga a arte da palhaçaria com Vinícius Petry; atriz em OBS.CENAS com Marco Frochetti, peça sobre a obra em prosa de Hilda Hilst e IN-CANTUS de Hilda Hilst, espetáculo poético-musical que aborda a obra poética e entrevistas da autora; participa como atriz da peça Expresso Paraíso direção de Maurício Casiraghi; participa como atriz da peça Velhos Hábitos direção de Thiago Silva; participa do Coletivo de Palhaças As Theodoras, grupo que pesquisa a palhaçaria feminina. Na arte-educação desenvolve oficinas para crianças, adolescentes e adultos, bem como capacitação para educadores.
ZÉ ADÃO BARBOSA
É autodidata e um dos mais categorizados profissionais do teatro gaúcho, ator de grande reconhecimento, tendo recebido 3 vezes o Prêmio Açorianos de Melhor Ator. Professor na área de atuação e interpretação cênica há 3 décadas, com ampla trajetória e excelência em seus cursos. É diretor e fundador da Casa de Teatro de Porto Alegre, um dos maiores centros de formação de atrizes e atores para Teatro, Cinema e Televisão, oferecendo grande variedade de cursos na área. Carrega em seu currículo como ator em teatro personagens diversos e foi dirigido por nomes importantes do teatro gaúcho e também brasileiro como Luciano Alabarse, Luís Paulo Vasconscellos, Adriane Motolla e Patricia Fagundes. No cinema atuou em obras dirigidas por Jorge Furtado, Sérgio Silva, Tabajara Ruas, Jayme Monjardim, entre outros. Também tem grande experiência em atuação para televisão, com participações em obras como “O Alienista”, “Luna Caliente”, “Laços de Família”, além de outros trabalhos para diversas emissoras. Dirigiu diversos trabalhos em teatro e apresentou, durante seis anos, o programa “Era Uma Vez em Porto Alegre” aos sábados pela manhã na Rádio Gaúcha. Um grande comunicador, vem administrando teoria e dinâmica de maneira ímpar, e repetindo seus cursos de Comunicação, Expressão e Criatividade por todo o estado e na Escola há duas décadas.
GILBERTO SCHWARTSMANN
Gilberto Schwartsmann é oncologista, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), membro titular e ex-diretor da Biblioteca da Academia Nacional de Medicina. Presidiu a Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina. É membro correspondente da Real Academia de Medicina da Espanha. Preside a Associação de Amigos do Theatro São Pedro, a Bach Society Brasil e a Associação de Amigos da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul. É patrono do Instituto Zoravia Bettiol e sócio benemérito da Associação de Artes Plásticas Francisco Lisboa. É membro do Conselho da Fundação e Museu Iberê Camargo. Presidiu a Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Recebeu a Medalha do Mérito Farroupilha da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul e a Medalha do Exército Brasileiro. Recebeu o Prêmio Eva Sopher de Destaque Cultural e o Prêmio Açorianos de Cultura da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Recebeu a Medalha Simões Lopes Neto, como destaque na cultura, pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul. É cidadão honorário das cidades de Porto Alegre, Canoas, Barra do Ribeiro e Nova Petrópolis, no Brasil, e Viña del Mar, no Chile. É cronista e ensaísta eventual nos jornais Zero Hora e Correio do Povo. É autor de livros e capítulos médicos no país e no exterior, com mais de 250 artigos científicos originais publicados no exterior, os quais receberam até o presente mais de doze mil citações por outros autores. Segundo estudo realizado em 2021, coordenado e divulgado pela Universidade de Stanford, nos EUA, ele é considerado um dos cinco mais atuantes pesquisadores do HCPA da UFRGS. Orientou quase uma centena de dissertações e teses doutorais em Medicina. Desde 2012, o Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFRGS confere um prêmio anual de destaque científico, o qual recebe o seu nome. Como escritor, Gilberto Schwartsmann publicou Frederico e outras histórias de afeto (Libretos), Meus olhos (Sulina), Acta diurna (Sulina), Max e os demônios (Sulina; em segunda edição), publicado também em espanhol (Leviatã), Divina rima: um diálogo com a Divina comédia, de Dante Alighieri (Sulina), Gabinete de curiosidades (Sulina), A Amante de Proust (Sulina) e a peça teatral O sol brilhou na Currúpnia (Sulina).
FERNANDO ZUGNO
Zugno iniciou sua trajetória artística, nos palcos, com Alabarse, teve aulas de teatro com Zé Adão e sempre acompanhou e admirou o trabalho de Arlete Cunha. A última peça feita por Fernando Zugno, que rendeu prêmio Açorianos de Melhor Ator, foi Inimigos de Classe, de Nigel Williams, com direção de Luciano Alabarse. Graduado em teatro pelo Teatro Escola de Porto Alegre – TEPA – em novembro de 2005; Graduado em Comunicação Social, especialização em jornalismo, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS – em agosto de 2010. Desde 2006 é produtor do festival internacional de artes cênicas, Porto Alegre em Cena, pro qual faz a programação desde 2012 e do qual é diretor desde 2017. De 2017 a 2020 foi coordenador de Artes Cênicas da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre. Em 2012 abriu a produtora Artworks Produções, encarregada de montar espetáculos de teatro, dança e música, circular com essas e outras produções e criar ações de artes cênicas com espetáculos de diversas origens. Montou obras como Inimigos de Classe de Nigel Williams, Marxismo, Ideologia e Rock’n’roll de Tom Stoppard, O Lugar Escuro de Heloisa Seixas. Trabalhou com a Cia. Brasileira de Teatro de Marcio Abreu, Sarau Produções e eventos como Canoas Tango, Canoas Jazz, concerto de Bibi Ferreira e Elza Soares e a estreia da Godspell, a Esperança. Nos últimos anos participou de festivais, seminários e reuniões na Alemanha, França, Espanha, Reino Unido, Austrália, Peru, Chile, Argentina, Colômbia e Estados Unidos. Em 2020 concebeu a revista de arte anual Corpo Futuro da qual é editor chefe e curador. A Corpo Futuro já está na sua 3ª edição. Em 2022 criou e irá dirigir e produzir a Mostra Internacional de Arte Contemporânea de Porto Alegre, evento que nas suas primeiras edições conta com nomes como Tim Etchells, Tom Zé, Ernesto Neto, Maria Nepomuceno, Cena 11, Marina Otero, Julha Franz, Nuno Ramos, entre outros. Hoje é diretor da empresa de produção artística e cultural Canard Produções.
SERVIÇO:
Dias 15, 16 e 17 de setembro
Quinta, às 21h
Sexta e sábado, às 20h
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n° Centro Histórico – Porto Alegre)
Ingressos: https://teatrosaopedro.rs.gov.br/gabinete-de-curiosidades-62fc24eee9dde
Assessoria de imprensa:
Cátia Tedesco – Agência Cigana
Fotos:
Vilmar Carvalho